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Foto do escritorTiago Lucena

A vida de uma Carmelita

Atualizado: 16 de jan. de 2023

“É, na verdade, ser feliz, e muito feliz, viver somente para Deus!”

(Serva de Deus Maria Imaculada da Ssma. Trindade)



Na nossa época pós-moderna, a era da alta tecnologia, da telemática, da produtividade, do consumo fácil, da racionalização, do culto do bem-estar, e de um ateísmo silencioso e pragmático, existe algum sentido no fato de que mulheres deixem a vida “normal” e se fechem em um mosteiro? Mesmo muitos dos que dizem ter fé veem nesta atitude uma fuga da vida complexa e difícil do nosso mundo, ou um desperdício, pois há necessidade premente de auxílio humanitário em tantos setores de nossa sociedade!

Tudo parte de uma questão de fé. Se creio em Deus, se creio que sem Ele nada posso fazer (cf. Jo 15,5), se creio que Ele é o Senhor da História, que “Nele nos movemos, somos e existimos” (At 7, 28), então, tudo muda! Tal vida será como o perfume de Betânia (Mc 14,3-9), onde o frasco foi quebrado para ser utilizado somente para Jesus, numa proclamação que Ele é Deus e Senhor, amado sobre todas as coisas!

Assim se entende porque ao longo de séculos – e também hoje! – jovens cheias de vida e de futuro, com alegria, deixam tudo para estar com Jesus de uma forma que busca ser absoluta, e assim, proclamar silenciosamente ao mundo o Absoluto de Deus! E pela consoladora realidade da Comunhão dos Santos, a sua oração, o seu sacrifício, a sua doação revertem em bem para muitas outras pessoas, cooperando com a graça de Deus para gerar e conservar a vida divina nestas almas. Tornam-se, desta forma, mães de almas. Isto resume, de forma um tanto simples, o sentido da vida consagrada contemplativa.

Mas como pode uma existência tão escondida e tão “sem brilho” chamar atenção sobre si, mesmo nos dias de hoje?

Quem se aproxima do Carmelo logo sente “um clima diferente”. Muitos o denominam como “um pedacinho do Céu”. Qual a origem desta “atmosfera” diferente”? Uma vida muito simples, e toda entregue por amor a Deus e pelo bem da humanidade.

O dia começa às 04h45, com o despertar. Seguem-se a oração de “Laudes”, a oração mental, a Missa, a oração de “Tertia”. Café da manhã, e trabalho, como na casa de Nazaré: lavar, passar, cozinhar, limpar, costurar, bordar... mas tudo “por Cristo, com Cristo e em Cristo”. Às 11h, oração de “Sexta”, seguida de exame de consciência, almoço e... recreio! O Papa Francisco diz que onde há religiosos, há alegria. Para confirmar isto, basta ver um recreio de carmelitas!

Depois de uma hora de recreio, segue-se uma hora de silêncio total, no qual a Irmã pode descansar, rezar, ler ou trabalhar. Às 14h, oração de “Noa”, seguida de leitura espiritual. Às 15h, retorno ao trabalho, até as 16h30, quando se reza “Vésperas”, seguida de mais uma hora de oração mental. Às 18h, jantar e mais uma hora de recreio. Às 19h30, “Completas”, seguida de um tempo de silêncio total, para oração ou leitura. Às 21h, oração de “Matinas” e repouso.

É uma vida de silêncio e solidão, para poder estar em maior sintonia com Deus. Fala-se somente o necessário a respeito do trabalho ou alguma outra necessidade e, sendo possível, por meio de bilhetes.

O recreio é o tempo de expansão das alegrias, mas também de partilha das preocupações, dos pedidos de oração próprios ou que recebemos de fora. Tudo como numa família, tendo como cabeça a Priora, que é a representante de Nossa Senhora, nossa Priora perpétua. Uma vez por semana reunimo-nos para a revisão de vida e correção de rota, pois não somos perfeitas, mas buscamos, com perseverança, dia a dia, a identificação com Jesus.

O trabalho é vivido com corresponsabilidade e generosidade, como vivência da pobreza e comunhão com condição da maior parte de nossos irmãos. Neste dia a dia “pequeno” formaram-se grandes almas, como Santa Teresinha do Menino Jesus e a própria Mãezinha, a Serva de Deus Maria Imaculada da Ss. Trindade, nossa fundadora. Nesta simplicidade de vida esconde-se uma energia, como dizia Edith Stein, também carmelita, capaz de romper as rochas. Por isso São Paulo já falava da vida escondida em Cristo, da vida vivida na fé no Filho de Deus. Fé: nada se vê – de anormal, de extraordinário – mas a realidade invisível é algo que “o que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram e o coração do homem não percebeu, isso Deus preparou para aqueles que o amam.” (1Cor 2,9)

Louvamos a Deus pela vocação que nos deu, e com a Serva de Deus Maria Imaculada, podemos afirmar: “Não sei como agradecer a Deus esta tão grande graça! Só sei dizer que sou muito e muitíssimo feliz!” Que Ele conceda esta graça a muitas e muitas jovens!


Irmãs do Carmelo da Sagrada Família

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